Dra. Deborah Beranger

Distúrbios da puberdade: quando os hormônios saem do controle

Distúrbios da puberdade: quando procurar ajuda?

A puberdade é uma fase crucial do desenvolvimento humano, marcada por mudanças físicas, hormonais e emocionais. No entanto, para alguns adolescentes, essa transição pode ocorrer de forma precoce, tardia ou até de maneira irregular, resultando nos chamados distúrbios da puberdade. Mas o que realmente caracteriza esses distúrbios e quando é o momento de procurar ajuda médica?

Neste artigo, vamos explorar o que são os distúrbios da puberdade, seus tipos, causas, bem como tratamentos. Se você é pai, mãe, ou cuidador de um adolescente, ou até mesmo um jovem que está passando por essa fase, continue a leitura para entender mais sobre o que acontece quando os hormônios saem do controle.

O que são distúrbios da puberdade?

A puberdade é o período de transição entre a infância e a idade adulta, em que o corpo passa por diversas alterações físicas e hormonais, geralmente iniciando entre os 8 e 13 anos nas meninas e entre 9 e 14 anos nos meninos. Quando há alterações no tempo esperado para o início ou progresso da puberdade, podem ocorrer os distúrbios da puberdade.

Esses distúrbios podem ter sua classificação em três categorias principais:

  • Puberdade precoce: quando as mudanças corporais ocorrem antes do tempo considerado normal.

  • Puberdade tardia: quando os sinais da puberdade demoram a aparecer.

  • Puberdade incompleta: quando o desenvolvimento puberal ocorre de forma irregular ou não se completa.


Tipos de distúrbios da puberdade

Puberdade precoce

A puberdade precoce acontece quando as mudanças características da puberdade começam antes da idade considerada normal — geralmente, antes dos 8 anos nas meninas e dos 9 anos nos meninos. Isso resulta em um desenvolvimento físico adiantado, muitas vezes com impacto emocional e psicológico, uma vez que a criança começa a se diferenciar de seus pares.

Tipos de puberdade precoce

Puberdade precoce central (dependente de gonadotrofinas): é a forma mais comum, sendo causada por uma ativação prematura do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal, que regula a produção hormonal. Isso faz com que o corpo inicie o processo puberal mais cedo. Na maioria dos casos, essa condição é idiopática (sem causa conhecida), mas também pode ser causada por tumores ou malformações no sistema nervoso central.

Puberdade precoce periférica (independente de gonadotrofinas): menos comum, é desencadeada por uma produção anormal de hormônios sexuais pelas glândulas adrenais, ovários ou testículos, sem a ativação do eixo central. Isso pode ocorrer devido a cistos ovarianos, tumores ou hiperplasia adrenal congênita.

Sintomas da puberdade precoce
  • Desenvolvimento precoce dos seios nas meninas;
  • Crescimento dos testículos e pênis nos meninos;
  • Aparecimento de pelos pubianos e axilares;
  • Crescimento rápido (surto de crescimento);
  • Alterações no humor, como, por exemplo, irritabilidade e instabilidade emocional.
Consequências

Embora inicialmente as crianças com puberdade precoce cresçam rapidamente, o fechamento antecipado das placas de crescimento dos ossos pode levar a uma estatura final abaixo da média. Além disso, essas mudanças precoces podem causar desconforto emocional e problemas de socialização.

Tratamento

O tratamento da puberdade precoce central geralmente envolve medicamentos chamados análogos de GnRH (hormônio liberador de gonadotrofina), que ajudam a retardar o progresso puberal até a idade apropriada. Já a puberdade precoce periférica exige a correção da causa subjacente, como, por exemplo, a remoção de tumores ou o controle da produção excessiva de hormônios.

Puberdade tardia

A puberdade tardia conta com a ausência dos sinais de desenvolvimento puberal até os 13 anos em meninas e 14 anos em meninos. Embora muitas vezes seja apenas uma variante normal do desenvolvimento, a puberdade atrasada também pode ser um indicativo de condições médicas subjacentes.

Causas da puberdade tardia

Atraso constitucional do crescimento e da puberdade: é a causa mais comum, sendo uma variação normal do desenvolvimento, onde o início da puberdade ocorre mais tarde, mas sem comprometer o crescimento ou o desenvolvimento sexual final. Geralmente há histórico familiar de puberdade tardia.

Hipogonadismo hipogonadotrófico: é quando o corpo não produz quantidades suficientes de hormônios que estimulam a função gonadal, resultando na falha do início da puberdade. Isso pode ocorrer devido a condições como a síndrome de Kallmann ou doenças crônicas que afetam o eixo hipotálamo-hipófise.

Hipogonadismo hipergonadotrófico: nesse caso, há uma falha nas gônadas (ovários ou testículos), que não respondem adequadamente aos hormônios gonadotróficos. As causas incluem a síndrome de Turner nas meninas e a síndrome de Klinefelter nos meninos, além de lesões gonadais por tratamentos como quimioterapia.

Sintomas da puberdade tardia
  • Ausência de desenvolvimento mamário nas meninas até os 13 anos;
  • Falta de aumento dos testículos nos meninos até os 14 anos;
  • Atraso no crescimento em altura;
  • Ausência de menstruação nas meninas até os 16 anos.
Consequências

Embora a puberdade tardia não cause complicações físicas a longo prazo em casos de atraso constitucional, pode afetar o bem-estar emocional do adolescente, gerando sentimentos de insegurança e isolamento em relação aos colegas.

Tratamento

Se a puberdade tardia for devida a um atraso constitucional, geralmente não é necessário tratamento, apenas acompanhamento médico. No entanto, se houver uma condição subjacente, pode ser necessário tratamento hormonal para induzir o desenvolvimento sexual.

Puberdade Incompleta

A puberdade incompleta ocorre quando o desenvolvimento puberal tem seu início, mas não se completa. Nesse caso, o adolescente pode apresentar alguns sinais de maturação sexual, mas o processo não avança ou se estabiliza em determinado estágio, sem alcançar o desenvolvimento completo esperado.

Tipos de puberdade incompleta

  • Puberdade incompleta isossexual: quando os sinais da puberdade se iniciam de acordo com o sexo biológico da pessoa, mas o desenvolvimento é interrompido.

  • Puberdade incompleta heterossexual: quando há desenvolvimento de características do sexo oposto, como, por exemplo, aumento mamário em meninos ou características masculinas em meninas.

Causas

As causas variam e podem incluir deficiências hormonais, como a falta de produção adequada de hormônios sexuais, ou até fatores genéticos. A síndrome de resistência aos andrógenos, por exemplo, pode levar à puberdade incompleta em meninos.

Sintomas

  • Desenvolvimento parcial das características sexuais secundárias (por exemplo, aparecimento de pelos pubianos, mas ausência de crescimento mamário completo);
  • Falta de progressão no desenvolvimento genital;
  • Ciclos menstruais irregulares ou ausência de menstruação nas meninas.

Tratamento

O tratamento depende da causa subjacente. Em muitos casos, a terapia hormonal pode ser utilizada para completar o desenvolvimento puberal. O acompanhamento contínuo por um endocrinologista é fundamental para garantir que o processo seja finalizado adequadamente.

Fatores externos que podem contribuir

Além das causas genéticas e hormonais, alguns fatores externos podem interferir no desenvolvimento puberal, tanto acelerando quanto retardando o processo:

  • Obesidade: o excesso de gordura corporal pode influenciar a produção hormonal, levando à puberdade precoce, especialmente em meninas.

  • Exposição a produtos químicos: fatores ambientais, como exposição a disruptores endócrinos (presentes em plásticos, pesticidas e produtos cosméticos), podem interferir no sistema hormonal, provocando distúrbios na puberdade.

  • Estresse: níveis elevados de estresse físico ou emocional, bem como experiências traumáticas na infância, podem afetar a produção hormonal e impactar o início da puberdade.

Compreender as causas dos distúrbios da puberdade é essencial para garantir um diagnóstico correto e o tratamento precoce. Isso possibilita minimizar complicações a longo prazo e promover o desenvolvimento saudável do adolescente.

Diagnóstico dos distúrbios da puberdade

O diagnóstico de distúrbios da puberdade é um processo multidisciplinar que envolve a análise clínica, laboratorial e, em alguns casos, de imagem. O principal objetivo é identificar as causas subjacentes ao desenvolvimento anormal e definir o melhor curso de ação. Aqui estão os passos comuns no diagnóstico:

1. Avaliação clínica

O primeiro passo no diagnóstico de distúrbios da puberdade é uma avaliação clínica completa. O médico, geralmente um endocrinologista, examina o histórico médico do paciente, incluindo:

  • Idade e desenvolvimento puberal: avalia-se a idade do paciente e se o desenvolvimento sexual (por exemplo, crescimento dos seios, pelos pubianos, aumento dos testículos, entre outros) está dentro dos parâmetros normais para a faixa etária.

  • Histórico familiar: a história de puberdade precoce ou tardia na família pode ser um indicativo de causas genéticas ou hereditárias.

  • Crescimento e ganho de peso: o padrão de crescimento e o ganho de peso têm sua análise para determinar se há desvios significativos.

  • Sinais físicos: a presença de sinais sexuais secundários antes da idade esperada ou a ausência de desenvolvimento são indícios claros de distúrbios hormonais.

2. Exames hormonais

O passo seguinte envolve a medição de níveis hormonais no sangue, a fim de avaliar o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-gonadal. Entre os exames laboratoriais, destacam-se:

  • Gonadotrofinas (LH e FSH): estes hormônios são responsáveis por estimular a produção de hormônios sexuais pelas gônadas. Níveis alterados podem sugerir disfunções no eixo hormonal.

  • Testosterona e estrogênio: níveis anormais desses hormônios podem indicar ativação precoce (ou atrasada) das gônadas.

  • Hormônio do crescimento (GH) e IGF-1: o hormônio do crescimento e seu fator de crescimento insulínico (IGF-1) ajudam a determinar se há alguma deficiência que afete o crescimento e o desenvolvimento puberal.

  • Hormônios da tireoide: como a glândula tireoide desempenha um papel importante no desenvolvimento e no crescimento, níveis de TSH e T4 são frequentemente verificados.

3. Exames de imagem

Em muitos casos, é necessário realizar exames de imagem para avaliar o desenvolvimento físico e verificar possíveis anormalidades.

  • Radiografia de mão e punho: a radiografia para a determinação da idade óssea ajuda a verificar se o desenvolvimento ósseo está compatível com a idade cronológica. Em casos de puberdade precoce, a idade óssea geralmente está avançada.

  • Ultrassom pélvico: nas meninas, o ultrassom pode ser para avaliar o tamanho dos ovários e do útero. Nos meninos, pode ser feito para avaliar os testículos.

  • Ressonância magnética (RM) do cérebro: se houver suspeita de causas no sistema nervoso central, como tumores ou cistos, a ressonância magnética é usada para examinar a região do hipotálamo e da hipófise.

4. Testes genéticos

Em casos de distúrbios puberais ligados a causas genéticas, como Síndrome de Kallmann, Síndrome de Turner ou Síndrome de Klinefelter, testes genéticos podem ser necessários para confirmar o diagnóstico.

Tratamento para distúrbios da puberdade

O tratamento dos distúrbios da puberdade varia de acordo com a causa subjacente e o tipo de distúrbio (precoce, tardio ou incompleto). O objetivo é regular o desenvolvimento hormonal e prevenir complicações futuras. 

Tratamento para puberdade precoce

No caso de puberdade precoce, o tratamento visa retardar o progresso puberal até que a criança alcance uma idade adequada para o desenvolvimento sexual.

Análogos de GnRH

Os análogos do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH) são o tratamento mais comum para puberdade precoce central. Essas medicações suprimem temporariamente a produção de hormônios sexuais, interrompendo o progresso puberal até que o tratamento seja suspenso.

O tratamento geralmente é mantido até que a criança atinja uma idade em que a puberdade seria considerada normal (geralmente entre 11 e 12 anos para meninas e 12 a 13 para meninos).

Tratamento para puberdade precoce periférica

Se a puberdade precoce for causada por tumores ou distúrbios hormonais periféricos (como cistos ovarianos ou hiperplasia adrenal), o tratamento depende da causa:

  • Cirurgia: tumores ou cistos podem ter sua remoção cirurgicamente para interromper a produção anormal de hormônios sexuais.

  • Medicações anti-hormonais: em casos de produção excessiva de hormônios pelas gônadas ou glândulas adrenais, podem ser usados medicamentos que bloqueiam a ação dos hormônios sexuais.

Tratamento para puberdade tardia

O tratamento para puberdade tardia foca em estimular o desenvolvimento sexual e o crescimento adequado. As opções incluem:

Terapia hormonal substitutiva

A reposição hormonal tem indicação quando há o atraso puberal associado ao hipogonadismo (baixa produção de hormônios sexuais) ou falha gonadal. O tratamento varia de acordo com o sexo do paciente:

Meninas: a reposição de estrogênio pode ser em doses baixas e gradualmente aumentada para estimular o desenvolvimento das mamas e a maturação sexual. Após um tempo, há a introdução da progesterona para regular o ciclo menstrual.

Meninos: a terapia com testosterona é para promover o desenvolvimento de características sexuais masculinas, como o aumento do volume testicular e o crescimento dos pelos corporais.

Suplementação nutricional

Se o atraso na puberdade estiver relacionado à desnutrição ou a condições crônicas que afetam a absorção de nutrientes, a suplementação alimentar e o controle da condição subjacente são essenciais para estimular o crescimento e o desenvolvimento.

Tratamento para puberdade incompleta

A puberdade incompleta pode exigir tratamentos mais direcionados, dependendo da causa subjacente:

  • Reposição hormonal: em casos de puberdade incompleta devido ao hipogonadismo, a reposição hormonal pode ser necessária para completar o desenvolvimento sexual.

  • Terapias adicionais: se houver resistência aos hormônios ou falha nas gônadas, outras terapias podem ser consideradas para estimular o desenvolvimento adequado. Por exemplo, em casos de resistência aos andrógenos em meninos, podem ser exploradas intervenções cirúrgicas ou medicações para melhorar os resultados estéticos.

Conclusão

Os distúrbios da puberdade são condições que podem impactar o desenvolvimento físico e emocional de crianças e adolescentes. O diagnóstico precoce e o tratamento adequado são essenciais para garantir uma transição saudável para a fase adulta. Por fim, se você suspeita que seu filho possa estar enfrentando problemas com a puberdade, não hesite em procurar ajuda especializada.

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