Dra. Deborah Beranger

Como a Síndrome de Cushing afeta o corpo e quais são os tratamentos

Síndrome de Cushing

A Síndrome de Cushing é uma condição complexa e pouco conhecida, mas que pode afetar profundamente a saúde física e emocional. Causada pelo excesso de cortisol no organismo – consequência de causas internas (endógenas) ou externas (exógenas) -, ela provoca uma série de sintomas que impactam desde o metabolismo até o sistema cardiovascular e a qualidade de vida como um todo. 

Neste artigo, você vai entender como a Síndrome de Cushing altera o funcionamento do corpo, conhecer suas principais causas, sintomas, formas de diagnóstico e os tratamentos mais indicados para cada caso.

Diferença entre a Síndrome de Cushing exógena e endógena

A Síndrome de Cushing pode ter origens diferentes, o que influencia diretamente o diagnóstico e o tratamento. Essas origens são classificadas em exógena e endógena:

Síndrome de Cushing exógena

A Síndrome de Cushing exógena é a forma mais comum da doença. Ela ocorre devido ao uso prolongado de medicamentos que contêm corticosteroides, como prednisona e dexametasona. Esses medicamentos são amplamente utilizados para tratar doenças inflamatórias crônicas, como:

  • Artrite reumatoide
  • Asma grave
  • Lúpus
  • Doenças autoimunes

O uso contínuo desses medicamentos, em altas doses ou por longos períodos, aumenta artificialmente os níveis de cortisol no organismo, desencadeando os sintomas da síndrome. Neste caso, o problema não está nas glândulas (hipófise ou suprarrenais), mas sim no excesso de hormônio administrado externamente.

Importante: nem todos os pacientes que utilizam corticosteroides desenvolvem a síndrome, mas o risco cresce conforme a dose e a duração do tratamento.

Síndrome de Cushing endógena

Já a Síndrome de Cushing endógena é causada pela produção excessiva de cortisol dentro do próprio corpo. As principais causas incluem:

  • Adenomas hipofisários (Doença de Cushing): tumores benignos na hipófise que produzem excesso de ACTH, estimulando a produção de cortisol pelas glândulas suprarrenais.

  • Tumores adrenais: tumores nas próprias glândulas suprarrenais que produzem cortisol diretamente.

  • Tumores ectópicos: tumores localizados fora da hipófise e das glândulas suprarrenais (como no pulmão) que também podem produzir ACTH.

Nessa forma da doença, o descontrole hormonal é interno, sem relação com medicamentos.

Importante: na síndrome endógena, o tratamento geralmente envolve cirurgia para remoção do tumor, enquanto na exógena, o foco está em reduzir gradualmente o uso de corticosteroides, sempre sob orientação médica.

Sintomas Síndrome de Cushing

Principais sintomas e como identificá-los

A Síndrome de Cushing provoca uma série de alterações físicas e metabólicas no organismo devido ao excesso de cortisol, conhecido como o “hormônio do estresse”. Reconhecer os sinais da síndrome precocemente é fundamental para buscar o diagnóstico e iniciar o tratamento adequado. Veja os principais sintomas:

Aumento de peso, especialmente no tronco

O ganho de peso é um dos sinais mais comuns, mas o padrão é característico: o acúmulo de gordura ocorre principalmente no rosto, pescoço, parte superior das costas (formando a chamada “corcova de búfalo”) e abdômen, enquanto braços e pernas podem permanecer relativamente finos.

Rosto arredondado (face em lua cheia)

O inchaço facial deixa o rosto mais redondo e volumoso, um dos sinais visíveis mais típicos da síndrome.

Fragilidade da pele

A pele torna-se mais fina e frágil, facilitando o surgimento de hematomas, cortes e ferimentos. Pequenas lesões demoram mais para cicatrizar.

Estrias largas e arroxeadas

O aparecimento de estrias largas, principalmente no abdômen, coxas, seios e braços, é um sintoma marcante. Essas estrias costumam ter uma coloração roxa ou avermelhada.

Fraqueza muscular

A degradação de proteínas induzida pelo excesso de cortisol leva a perda de força, especialmente nos músculos das coxas e braços, dificultando atividades simples como subir escadas ou levantar objetos.

Alterações no humor e no comportamento

Pessoas com síndrome de Cushing podem apresentar irritabilidade, ansiedade, depressão e até mesmo alterações de memória e concentração.

Hipertensão arterial e diabetes

O excesso de cortisol também aumenta a pressão arterial e a glicose sanguínea, elevando o risco de desenvolver hipertensão e diabetes tipo 2.

Alterações hormonais

Nas mulheres, podem ocorrer irregularidades menstruais e crescimento excessivo de pelos faciais e corporais (hirsutismo). Nos homens, pode haver diminuição da libido e disfunção erétil.

Osteoporose

A perda de massa óssea é outra complicação comum, aumentando o risco de fraturas, especialmente em idosos.

Diagnóstico: como saber se tenho a Síndrome de Cushing?

O diagnóstico da Síndrome de Cushing pode ser desafiador, pois muitos dos sintomas se sobrepõem a outras condições. Por isso, a avaliação cuidadosa por um endocrinologista é fundamental.

Os principais passos para o diagnóstico incluem:

  • Histórico clínico e exame físico: o médico avalia os sintomas, histórico de uso de medicamentos (especialmente corticoides) e possíveis fatores de risco.

  • Exames laboratoriais:
    • Teste de cortisol livre na urina de 24 horas: mede a quantidade de cortisol excretada na urina ao longo de um dia.

    • Teste de supressão com dexametasona: avalia a resposta do corpo após administração de um corticoide sintético.

    • Cortisol salivar noturno: verifica os níveis de cortisol no período da noite, quando normalmente deveriam estar mais baixos.

  • Exames de imagem: caso os exames laboratoriais indiquem excesso de cortisol, podem ser solicitadas ressonância magnética da hipófise ou tomografia das glândulas suprarrenais para identificar tumores.

Importante: o diagnóstico exige uma abordagem precisa para diferenciar a síndrome de outras causas de hipercortisolismo e determinar a origem do problema (exógena ou endógena).

Tratamentos disponíveis para Síndrome de Cushing

O tratamento da Síndrome de Cushing depende da causa identificada:

  • Redução ou suspensão dos corticoides: quando a síndrome é causada pelo uso prolongado de corticoides, o médico irá orientar uma redução gradual da dose, sempre com acompanhamento profissional.

  • Cirurgia:
    • Tumores hipofisários ou suprarrenais podem ter sua remoção cirurgicamente.

    • A cirurgia é a principal forma de tratamento nos casos endógenos.
  • Radioterapia: pode ser indicada para tumores hipofisários que não foram totalmente removidos pela cirurgia ou que apresentam recorrência.

  • Medicação: em casos onde a cirurgia não é possível ou não é totalmente eficaz, medicamentos que reduzem a produção de cortisol podem ser utilizados.

  • Tratamento das complicações: controle de diabetes, hipertensão, osteoporose e alterações psicológicas é essencial para o bem-estar do paciente.

Cada caso é único, e o plano de tratamento deve ser individualizado, sempre sob a orientação de um endocrinologista.

Complicações da Síndrome de Cushing não tratada

Quando a Síndrome de Cushing não é tratada, pode evoluir para uma série de complicações graves, incluindo:

  • Hipertensão arterial severa
  • Diabetes mellitus descontrolado
  • Infecções frequentes, devido à supressão do sistema imunológico
  • Osteoporose com alto risco de fraturas
  • Doenças cardiovasculares, como infarto e AVC
  • Problemas psiquiátricos, como depressão severa, ansiedade e até psicose
  • Fraqueza muscular e limitações físicas
  • Aumento da mortalidade se a síndrome não for tratada adequadamente

Essas complicações impactam significativamente a qualidade e a expectativa de vida, tornando o diagnóstico e o tratamento precoce ainda mais importantes.

Pós-tratamento: como é a recuperação?

A recuperação após o tratamento da Síndrome de Cushing pode ser um processo gradual:

  • Normalização dos níveis de cortisol: pode levar meses até que o organismo volte a produzir cortisol em níveis normais, especialmente após cirurgias que envolvam as glândulas suprarrenais ou hipófise.

  • Recuperação dos sintomas: a melhora dos sintomas físicos (como redução de peso e melhora da força muscular) e metabólicos (controle da pressão arterial e glicose) acontece progressivamente.

  • Suporte psicológico: muitas pessoas precisam de acompanhamento psicológico para lidar com as alterações emocionais e o impacto que a doença teve em sua vida.

  • Reposição hormonal: em alguns casos, pode ser necessário fazer reposição de hormônios temporariamente enquanto o organismo se ajusta.

O acompanhamento endocrinológico regular é indispensável para monitorar a recuperação, ajustar tratamentos e prevenir recaídas.

Efeitos da Síndrome de Cushing

Considerações finais sobre a Síndrome de Cushing

A Síndrome de Cushing é uma condição séria que impacta vários sistemas do corpo e exige atenção especializada. Com diagnóstico precoce e tratamento adequado, é possível controlar os sintomas, prevenir complicações e recuperar a qualidade de vida. Entender os sinais, buscar orientação médica e manter o acompanhamento regular são passos essenciais para a recuperação completa.

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