Hipoglicemia o que é, sintomas, causas e como prevenir
A hipoglicemia é uma condição em que os níveis de glicose no sangue caem abaixo do normal, geralmente abaixo de 70 mg/dL. A glicose é essencial para o bom funcionamento do corpo, especialmente do cérebro, que depende dela como sua principal fonte de energia. Quando os níveis de glicose caem, o corpo pode começar a apresentar sintomas que, se não tratados, podem levar a complicações graves.
Por que a glicose é tão importante?
A glicose, ou açúcar no sangue, é uma das principais fontes de energia do corpo, especialmente para o cérebro. Quando os níveis de glicose caem drasticamente, o corpo e o cérebro não têm combustível suficiente para funcionar adequadamente, o que pode gerar uma série de sintomas desconfortáveis e, em casos extremos, ser potencialmente perigoso.
A glicose é obtida principalmente através da digestão de carboidratos que consumimos, como pães, arroz, frutas e vegetais. Após a digestão, a glicose tem sua absorção pela corrente sanguínea e transporte para as células, onde tem seu uso como energia. O hormônio insulina, produzido pelo pâncreas, facilita a entrada da glicose nas células. Em condições normais, o corpo mantém um equilíbrio entre a glicose e a insulina, garantindo que os níveis de açúcar no sangue se mantenham estáveis.
Quando os níveis de glicose caem muito, o corpo entra em um estado de alerta. O cérebro, que depende exclusivamente da glicose como fonte de energia, é o primeiro a sentir os efeitos dessa queda. É por isso que os sintomas iniciais da hipoglicemia estão frequentemente relacionados a alterações neurológicas, como confusão mental e tontura.
Tipos de hipoglicemia
Existem diferentes tipos de hipoglicemia, cada uma associada a causas específicas:
- Hipoglicemia induzida por medicamentos: esta é a forma mais comum, especialmente em pessoas com diabetes que utilizam insulina ou medicamentos orais que podem reduzir os níveis de glicose no sangue.
- Hipoglicemia reativa: ocorre após refeições ricas em carboidratos. O corpo pode liberar uma quantidade excessiva de insulina em resposta ao aumento de açúcar no sangue, o que leva a uma queda rápida da glicose.
- Hipoglicemia em jejum: ocorre quando os níveis de glicose no sangue caem após longos períodos sem comer, como durante a noite ou após jejum prolongado. Essa forma pode estar associada a doenças hepáticas, distúrbios hormonais ou tumores que afetam a produção de insulina.
- Hipoglicemia alcoólica: ocorre quando a ingestão excessiva de álcool interfere com a produção de glicose no fígado, especialmente se a pessoa não estiver se alimentando adequadamente.
Quem pode ter hipoglicemia?
Embora a hipoglicemia seja mais frequentemente associada a pessoas com diabetes que usam insulina ou medicamentos que baixam a glicose no sangue, ela pode afetar qualquer pessoa. Isso inclui indivíduos sem diabetes que sofrem de certas condições médicas ou estão expostos a fatores de risco, como jejum prolongado ou consumo de álcool em excesso. Além disso, certos medicamentos, doenças metabólicas raras, distúrbios hormonais ou cirurgias gastrointestinais podem predispor uma pessoa à hipoglicemia.
Como o corpo reage à hipoglicemia?
Quando os níveis de glicose caem, o corpo libera hormônios como glucagon e adrenalina (epinefrina) para tentar elevar o açúcar no sangue. Esses hormônios estimulam o fígado a liberar glicose armazenada e, ao mesmo tempo, causam sintomas de alerta, como sudorese, tremores e aumento da frequência cardíaca. Esses são os primeiros sinais de que o corpo precisa de glicose rapidamente.
Se a hipoglicemia não for tratada a tempo, o cérebro começa a sofrer mais gravemente com a falta de energia, levando a confusão mental, tonturas, desmaios e, em casos extremos, convulsões ou coma.
Fatores de risco para hipoglicemia
Entender os principais fatores de risco pode ajudar a identificar situações em que a hipoglicemia é mais provável de ocorrer e prevenir episódios perigosos. A seguir, exploramos os principais fatores que aumentam o risco de hipoglicemia.
Uso de medicamentos para diabetes
O uso de medicamentos antidiabéticos, especialmente insulina e sulfonilureias, é um dos principais fatores de risco para a hipoglicemia. Esses medicamentos têm a função de reduzir os níveis de glicose no sangue, mas podem, em alguns casos, causar uma queda excessiva. Pacientes que tomam insulina para controlar o diabetes tipo 1 ou tipo 2, ou medicamentos orais que estimulam a produção de insulina, como glibenclamida, têm maior probabilidade de sofrer episódios de hipoglicemia, especialmente se a dose não for ajustada adequadamente ao consumo alimentar ou nível de atividade física.
Sintomas diabetes tipo 2 e a importância do diagnóstico precoce
Alimentação inadequada
Pular refeições ou consumir uma quantidade insuficiente de carboidratos pode levar à hipoglicemia, especialmente em pessoas que tomam medicamentos para baixar a glicose. Dietas muito restritivas, jejum prolongado ou refeições desbalanceadas com baixos níveis de carboidratos podem aumentar esse risco.
Atividade física intensa
Exercícios físicos intensos consomem grandes quantidades de energia, o que pode reduzir significativamente os níveis de glicose no sangue. Em pessoas que não ajustam a alimentação ou a dosagem de insulina antes de se exercitar, isso pode resultar em hipoglicemia. Mesmo em pessoas sem diabetes, exercícios prolongados ou de alta intensidade sem uma ingestão adequada de alimentos podem ocasioná-la.
Consumo excessivo de álcool
O consumo excessivo de álcool, especialmente em jejum, pode causar hipoglicemia, já que o álcool interfere na capacidade do fígado de liberar glicose armazenada. O fígado desempenha um papel essencial na regulação dos níveis de glicose no sangue, e quando está ocupado metabolizando o álcool, ele pode não ser capaz de liberar glicose suficiente, resultando em uma queda perigosa nos níveis de açúcar no sangue.
Jejum prolongado
O jejum prolongado é outro fator de risco importante para hipoglicemia. Quando ficamos longos períodos sem ingerir alimentos, o corpo esgota suas reservas de glicose, principalmente no fígado, e pode não conseguir manter os níveis de glicose no sangue dentro de limites normais. Isso pode ser particularmente perigoso para pessoas que tomam medicamentos que reduzem a glicose no sangue.
Distúrbios hormonais
Certos distúrbios hormonais podem afetar a regulação dos níveis de glicose no sangue. A deficiência de hormônios que ajudam a manter o açúcar no sangue, como, por exemplo, o glucagon (produzido pelo pâncreas) ou o cortisol (produzido pelas glândulas adrenais), pode aumentar o risco de hipoglicemia. A insuficiência adrenal e o hipopituitarismo são exemplos de condições hormonais que podem predispor uma pessoa a episódios de hipoglicemia.
Abordagens integrativas no tratamento de distúrbios hormonais
Doenças do fígado e dos rins
O fígado e os rins têm funções cruciais no metabolismo da glicose. O fígado armazena glicose e a libera conforme necessário para manter os níveis de açúcar no sangue, enquanto os rins ajudam a manter o equilíbrio do corpo, filtrando substâncias e liberando glicose. Doenças hepáticas (como cirrose ou hepatite) ou insuficiência renal podem prejudicar essas funções, aumentando o risco de hipoglicemia.
Cirurgias gastrointestinais
Algumas cirurgias que alteram o trato gastrointestinal, como, por exemplo, a cirurgia bariátrica (redução de estômago), podem aumentar o risco de hipoglicemia. Isso ocorre porque essas cirurgias podem alterar a maneira como o corpo processa e absorve os alimentos, levando a flutuações nos níveis de glicose no sangue. A hipoglicemia pós-prandial (hipoglicemia reativa) pode ocorrer em pessoas que passam por esse tipo de procedimento.
Tumores pancreáticos (insulinoma)
Os insulinomas são tumores raros do pâncreas que produzem insulina em excesso. Isso leva a uma queda crônica nos níveis de glicose no sangue, resultando em episódios recorrentes de hipoglicemia. Embora os insulinomas sejam raros, eles representam uma causa importante de hipoglicemia em pessoas sem diabetes.
Medicações não diabéticas
Além dos medicamentos para diabetes, alguns outros medicamentos podem provocar hipoglicemia. Antibióticos como, por exemplo, sulfonamidas, medicamentos para malária, como a quinina, e betabloqueadores (usados para tratar pressão alta) podem baixar os níveis de glicose no sangue, especialmente quando combinados com outros fatores de risco.
Sintomas da hipoglicemia
Os sintomas da hipoglicemia variam de leves a graves, dependendo da rapidez com que os níveis de glicose no sangue caem e da gravidade da queda. Como a glicose é a principal fonte de energia do cérebro e de outras funções corporais, uma redução acentuada pode desencadear uma série de sinais que afetam tanto o corpo quanto a mente. É crucial reconhecer esses sintomas rapidamente para evitar complicações, como, por exemplo, desmaios, convulsões ou coma.
Sintomas iniciais (leves)
Quando os níveis de glicose começam a cair, o corpo reage com sinais de alerta que podem ser fáceis de identificar, especialmente para pessoas que já tiveram episódios de hipoglicemia. Esses sintomas são resultado da ativação do sistema nervoso autônomo, que tenta compensar a falta de glicose.
- Tontura ou vertigem: um dos primeiros sintomas pode ser a sensação de tontura ou desequilíbrio, causada pela falta de glicose no cérebro.
- Tremores: o corpo começa a tremer como resposta à queda nos níveis de açúcar no sangue. Esses tremores são causados pelo aumento da liberação de adrenalina, que é uma tentativa do corpo de elevar a glicose no sangue.
- Fome extrema: a fome súbita e intensa é um sinal claro de que o corpo precisa urgentemente de glicose.
- Sudorese: a transpiração excessiva, mesmo em um ambiente fresco, é um sintoma comum da hipoglicemia. Isso ocorre porque o corpo libera adrenalina para tentar elevar os níveis de glicose.
- Palpitações: o coração pode começar a bater mais rápido, como uma reação do corpo à queda nos níveis de açúcar.
Sintomas neurológicos (moderados)
À medida que a hipoglicemia progride e os níveis de glicose continuam a cair, o cérebro, que depende exclusivamente da glicose como fonte de energia, começa a ser afetado. Isso pode levar a sintomas neurológicos, que muitas vezes são confundidos com outros problemas de saúde.
Confusão mental: um dos sinais mais preocupantes é a dificuldade em pensar claramente ou tomar decisões. O raciocínio pode ficar mais lento e a pessoa pode parecer desorientada.
Visão turva: a visão pode se tornar turva ou embaçada, o que pode ser um sinal de que o cérebro está lutando para funcionar sem glicose suficiente.
Fala arrastada: assim como a confusão mental, a fala pode ser afetada, tornando-se lenta e arrastada, semelhante ao que ocorre em uma pessoa embriagada.
Sonolência: a falta de glicose no cérebro também pode causar uma sensação de cansaço extremo ou sonolência, dificultando a permanência acordada.
Mudanças de humor: irritabilidade, nervosismo ou mudanças repentinas de humor podem ocorrer, tornando a pessoa emocionalmente instável sem motivo aparente.
Sintomas graves
Se a hipoglicemia não for tratada a tempo, os sintomas podem se agravar rapidamente, levando a consequências graves que afetam o cérebro, bem como o corpo de forma generalizada. Esses sintomas são considerados emergências médicas e requerem intervenção imediata.
Desmaio: a queda severa nos níveis de glicose pode causar perda de consciência. Nesse estágio, o cérebro não está recebendo energia suficiente para manter o corpo funcionando.
Convulsões: em casos extremos, a falta de glicose pode desencadear convulsões, o que ocorre quando o cérebro entra em um estado de hiperatividade por falta de energia.
Coma hipoglicêmico: se a hipoglicemia persistir sem tratamento, pode ocorrer um coma hipoglicêmico. Essa é uma condição potencialmente fatal em que o cérebro perde completamente sua capacidade de funcionar.
Sintomas noturnos de hipoglicemia
A hipoglicemia pode ocorrer durante o sono, sendo mais difícil de reconhecer, pois os sinais podem ser sutis. No entanto, algumas pistas podem indicar que uma pessoa está experimentando uma queda de glicose no sangue durante a noite:
- Pesadelos: a pessoa pode ter sonhos vívidos ou perturbadores, como pesadelos.
- Suor noturno: transpiração excessiva durante o sono pode ser um sinal de hipoglicemia.
- Agitação: a pessoa pode se mexer ou se agitar mais do que o normal durante a noite.
- Cansaço ao acordar: a sensação de cansaço extremo ou uma ressaca de sono, mesmo após uma noite inteira de descanso, pode ser um sinal de que o corpo passou por um episódio de hipoglicemia durante a noite.
Hipoglicemia assintomática
Em alguns casos, especialmente em pessoas com diabetes que têm episódios frequentes de hipoglicemia, os sintomas podem ser imperceptíveis. Isso é conhecido como hipoglicemia assintomática, e ocorre quando o corpo se acostuma com níveis baixos de glicose no sangue e não exibe os sinais de alerta habituais, como tremores ou sudorese, por exemplo. Isso torna a condição ainda mais perigosa, pois a pessoa pode não perceber que precisa de tratamento imediato até que os sintomas graves se manifestem.
Reconhecer os sintomas precocemente é essencial
Reconhecer os primeiros sintomas da hipoglicemia é fundamental para agir rapidamente e evitar complicações. Pessoas com diabetes que usam insulina ou medicamentos orais que reduzem a glicose devem estar especialmente atentas a esses sinais e sempre carregar consigo uma fonte de glicose rápida, como balas ou suco, para tratar a hipoglicemia imediatamente.
Se não for tratada adequadamente, a hipoglicemia pode evoluir para uma emergência médica grave. Por isso, é importante que pacientes e seus familiares saibam identificar os sintomas e saibam o que fazer para controlar a situação, seja consumindo carboidratos de rápida absorção ou procurando ajuda médica imediatamente.
O que fazer em caso de hipoglicemia?
Quando uma crise de hipoglicemia é identificada, agir rapidamente é fundamental para evitar complicações mais graves, como desmaios ou convulsões, por exemplo. O tratamento depende da gravidade dos sintomas e de quão baixa está a glicose no sangue. A seguir, explicamos as principais medidas:
Consumir carboidratos de rápida absorção
O primeiro passo ao notar os sintomas de hipoglicemia (com a certeza de que seja) é ingerir carboidratos que são rapidamente convertidos em glicose pelo corpo. Algumas opções recomendadas são:
- 15g a 20g de glicose, como em comprimidos de glicose vendidos em farmácias.
- ½ copo de suco de laranja ou de outra fruta (aproximadamente 120 ml).
- Uma colher de sopa de mel ou açúcar.
- Balas ou doces de açúcar puro (3 a 5 unidades).
Após ingerir os carboidratos, aguarde cerca de 15 minutos e verifique novamente os níveis de glicose no sangue, caso tenha acesso a um glicosímetro. Se os sintomas persistirem ou se os níveis de glicose ainda estiverem abaixo de 70 mg/dL, repita o processo consumindo mais carboidratos de rápida absorção.
Evitar atividades físicas
Durante uma crise de hipoglicemia, é importante evitar atividades físicas, pois elas podem piorar a condição ao utilizar a glicose do corpo como energia, reduzindo ainda mais os níveis de açúcar no sangue.
Consumo de carboidratos de absorção lenta
Após a glicemia voltar ao normal, consuma alimentos que contenham carboidratos de absorção lenta, como um sanduíche integral, uma barra de cereal ou frutas com aveia. Isso ajudará a estabilizar os níveis de glicose por mais tempo e evitará uma nova queda.
Procurar ajuda médica em casos graves
Se a pessoa estiver inconsciente ou não conseguir engolir, não tente oferecer comida ou líquidos. Em vez disso, aplique uma injeção de glucagon, caso disponível, e chame imediatamente ajuda médica. Glucagon é um hormônio que eleva os níveis de glicose no sangue rapidamente.
Qual exame detecta hipoglicemia?
A hipoglicemia pode ter sua identificação através de exames de sangue que medem os níveis de glicose, especialmente quando há suspeita de uma crise hipoglicêmica. Os exames e testes mais comuns incluem:
Glicemia de jejum
Este é o exame mais básico para medir os níveis de glicose no sangue. Deve ter sua realização após pelo menos 8 horas de jejum. Níveis de glicose abaixo de 70 mg/dL podem indicar hipoglicemia, especialmente em indivíduos com sintomas correspondentes.
Exame de glicose pós-prandial
O exame de glicose pós-prandial mede os níveis de glicose no sangue duas horas após uma refeição. Isso ajuda a avaliar como o corpo está lidando com a glicose ingerida e pode identificar a hipoglicemia reativa, que ocorre após comer.
Teste de tolerância à glicose
Este teste é mais detalhado e utilizado principalmente para avaliar como o corpo processa a glicose ao longo do tempo. O paciente ingere uma dose de glicose e os níveis de açúcar no sangue são monitorados em intervalos regulares para detectar tanto a hiperglicemia quanto a hipoglicemia.
Monitoramento Contínuo de Glicose (MCG)
O monitoramento contínuo de glicose envolve o uso de um dispositivo que mede os níveis de glicose em tempo real, 24 horas por dia. Ele é especialmente útil para pessoas que sofrem com episódios frequentes de hipoglicemia ou hipoglicemia assintomática, pois permite identificar padrões de queda nos níveis de glicose, incluindo durante a noite.
Exame de insulina e hormônios relacionados
Em alguns casos, a hipoglicemia pode ter sua causa por um excesso de insulina no organismo. Exames para medir os níveis de insulina, peptídeo C e cortisol também podem ser para identificar a causa subjacente da hipoglicemia.
Esses exames são fundamentais para o diagnóstico e acompanhamento de pacientes com hipoglicemia, permitindo que o médico ajuste o tratamento de forma eficaz.
Considerações finais
Por fim, a hipoglicemia pode ser um problema sério se não tiver tratamento correto. Compreender os sintomas e as causas é crucial para prevenir crises e garantir o bem-estar. Caso você tenha dúvidas ou sofra de episódios frequentes de hipoglicemia, consulte sua endocrinologista para um diagnóstico detalhado e um plano de tratamento personalizado.
Dra. Deborah Beranger
Endocrinologista – Atendimento especializado – Endocrinologista Tijuca e Barra da Tijuca, RJ